Mesmo com dificuldades legais, adoção por casais gays nos EUA está crescendo

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um crescente número de casais homossexuais nos EUA está adotando filhos, segundo dados do Censo, apesar do cenário jurídico desigual, que pode deixar essas crianças sem os direitos e proteções oferecidos a filhos de heterossexuais.
Casais homossexuais são expressamente proibidos de adotar apenas em Utah e no Mississippi, mas enfrentam obstáculos jurídicos significativos nos Estados onde o casamento gay é proibido.

Apesar dessa colcha de retalhos legal, o percentual de casais do mesmo sexo com filhos adotados cresce fortemente. Cerca de 19% dos casais homossexuais que criam filhos relatavam ter adotado uma criança em 2009, contra apenas 8% em 2000, segundo Gary Gates, demógrafo do Instituto Williams para a Lei de Orientação Sexual, da Califórnia.

O aumento tem sido moldado por duas tendências apontadas pelos partidários da causa: a necessidade de lares para crianças à espera de adoção -há cerca de 115 mil delas nos EUA-, além do aumento da aceitação de gays e lésbicas na sociedade americana.

A família americana não é a mesma de 30 anos atrás, argumentam eles, e a lei demorou a acompanhar isso. A maioria dos obstáculos jurídicos à adoção por casais homossexuais deriva da proibição do casamento, segundo o Conselho de Igualdade Familiar, grupo de militância em prol das famílias homossexuais. Na maioria dos Estados, gays solteiros podem adotar. Embora os partidários da causa possam citar vitórias judiciais -sentenças favoráveis na Flórida no ano passado e no Arkansas em abril-, eles lembram que os avanços vêm matizados por derrotas, como no Arizona, que, recentemente, aprovou uma lei exigindo que se dê preferência a casais heterossexuais.
"São dois passos para frente, um passo para trás", disse Ellen Kahn, diretora do Projeto Família da Campanha pelos Direitos Humanos, que presta assistência a famílias de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais.

"A verdade é que precisamos de pais adotivos, e não importa qual é a relação", disse Moira Weir, diretora do departamento de serviços de emprego e família no condado Hamilton, Ohio. "Se eles podem oferecer um lar seguro e amoroso para uma criança, não é isso que nós queremos?"

O governo Obama tem citado o papel que gays e lésbicas podem desempenhar nas adoções. "O sistema de bem-estar infantil passou a entender que colocar uma criança em uma família gay ou lésbica não implica um risco maior do que colocá-la em uma família heterossexual", disse Bryan Samuels, comissário governamental para Crianças, Jovens e Famílias.

Mas os números são pequenos. Gates estima que 65 mil crianças adotadas vivem em lares chefiados por gays, o que significa cerca de 4% da população adotada.

Kahn afirmou que o número de agências com as quais ela trabalha mais do que duplicou nos últimos cinco anos, chegando a cerca de 50. Ela acrescentou que a discriminação permanece, mas que as adoções estão acontecendo mesmo assim, inclusive em locais onde a lei não confere direitos plenos a ambos os pais.

Matt e Ray Lees, de Worthington, Ohio, disseram que foram selecionados como pais de um bebê, à frente de casais heterossexuais, em parte porque já tinham adotado dois filhos mais velhos.

Pela lei de Ohio, os casais precisam ser casados para adotar conjuntamente, por isso, quando o processo de adoção começou, apenas um deles podia participar (o casamento homossexual é ilegal em Ohio. Nova York legalizou-o em 24 de junho). Então, Ray adotou três, e Matt está adotando cinco irmãos.

"Achávamos que as pessoas considerariam que somos loucos para termos oito filhos", disse Matt Lees, 39. Mas eles não querem dividir os irmãos. "Foi a melhor maneira que pudemos imaginar para passar os próximos 20 anos das nossas vidas", disse. Pais adotivos do mesmo sexo tendem a ser mais ricos e educados do que a população de pais gays, segundo Gates. O casal Lees tem diplomas universitários e profissões qualificadas.

O começo para eles foi difícil. A filha mais velha, então com seis anos, chorou e perguntou quem cozinharia e quem pentearia seu cabelo. Mas essa época passou. E, embora a família seja uma curiosidade no seu bairro -dois homens brancos levando oito crianças negras em uma minivan Mercedes-, há pelo menos duas outras famílias gays com filhos adotivos nos arredores. "A guerra foi vencida, mas as batalhas ainda estão sendo travadas", disse Pertman.




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