55% dos brasileiros são contra a adoção por casais homossexuais

segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Ainda que o casamento entre pessoas do mesmo sexo tenha sido aprovado recentemente pelo Superior Tribunal Federal, o preconceito aos casais gays permanece. Dados divulgados pelo IBOPE nesta quinta-feira (28), demonstram que 55% da população brasileira ainda é contra a união estável entre gays, não concordando também com o direito à adoção infantil por homossexuais. Mas por que tanta resistência a um ato que só beneficia as crianças sem família? “O preconceito está internalizado nas pessoas, normalmente nas mais velhas, porque elas ainda associam a homossexualidade a um erro de escolha, falta de caráter ou doença”, explica Edith Modesto, terapeuta em orientação sexual e presidente da Associação Brasileira de Pais e Mães Homossexuais. Para a especialista, a adoção de crianças por casais homossexuais deveria ser estimulada por uma série de motivos. “Na hora da adoção, por exemplo, eles não fazem as exigências que normalmente são feitas por outros casais, como idade, cor ou sexo. Afinal quem já sofreu a discriminação na própria pele, não quer que uma criança passe por isso”, afirma. Foi o que aconteceu com o produtor cultural Antônio Sandro dos Santos, 49. “Nós fizemos questão de adotar uma criança negra. A princípio queríamos uma que tivesse por volta de 1 ano, mas quando encontramos o Vítor foi mágico. Ele estava com 7 na época e três dias depois já fazia uma visita para nós aqui em casa”, relembra. Ele e o companheiro adotaram o menino há 5 anos, quando a relação entre os dois beirava os 14 anos de duração. “Logo quando o Vítor chegou, nós tivemos uma conversa e eu expliquei para ele que nossa família seria diferente. Ele não viu nenhum problema nisso”, relata Sandro. O menino chama Antônio de pai e o companheiro do produtor, de tio. Já a referência feminina de Vítor fica por conta da madrinha e as amigas do pai. “Nós sabemos que a criança precisa ter contato com os dois gêneros, mas não precisa ser, necessariamente, pai ou mãe. Essas figuras podem ser preenchidas por pessoas próximas e queridas da criança. Se não ter a figura paterna ou materna presente fosse um problema, crianças que são fruto de relações monoparentais (que tem só um dos pais) também seriam prejudicadas, o que não ocorre” defende a psicóloga Mariana Farias, autora de Adoção por Homossexuais (Ed. Jurua), rebatendo as críticas feitas por aqueles que questionam a ausência de um dos gêneros na relação entre os pais homossexuais. Sendo assim, Vítor tem todas as figuras de que necessita para levar uma vida feliz.

Amor e cuidado bastam

Os questionamentos sobre o novo modelo de família formado pela união estávelhomossexual são inúmeros: muitos acham que a orientação sexual dos pais vai influenciar os filhos ou, ainda, associam os homossexuais à promiscuidade. “Uma criança será feliz se receber amor e cuidados. A fonte disso é o que menos importa", reforça Edith. "Quando um gay resolve ter um filho é porque ele realmente quer isso. É uma escolha consciente. A maior dificuldade na criação da criança não está dentro de casa, mas no preconceito que existe fora dela.” Antônio vê apenas o lado bom de formar uma família. "Não me incomodo com a discriminação, nem a percebo", diz. Ele, que sempre foi uma pessoa aberta, tenta passar esse valor também ao filho. A única queixa, como todo pai que se preocupa, é sobre o trabalho que as crianças dão. "Ainda assim, vale muito a pena. O Vítor enche a nossa casa de alegria”, conclui.

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