Temer é temeroso

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Segunda-feira, 23 de Agosto de 2010
ELEIÇÕES 2010
Temer é temeroso
Vice de Dilma Rousseff, Michel Temer diz ser a favor da união civil gay, mas “dos bons costumes” a evangélicos
por Valmir Costa



RIO DE JANEIRO – Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice-presidente de Dilma Rousseff (PT-RS), e líder do partido na Câmara dos Deputados, fez ontem, 22, uma visita de campanha a uma das Assembleias de Deus de Campo Grande, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Na linha do politicamente correto, Temer disse que não gostava de misturar política com religião e que se sentia “constrangido em falar de política durante o culto”. Ora, mas a pergunta que não quer calar: mas o que ele fazia ali?

Na sua fala, Temer disse ser “a favor da vida e dos bons costumes”, sem especificar do que se tratava sua afirmação. O que se sabe é que a igreja evangélica é contra a união civil homossexual em nome dos “bons costumes”.

Quem acompanhava Temer era o deputado evangélico Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autor do projeto |PL-7382/2010, que pune a “discriminação a heterossexual”, um projeto de lei que faz chacota ao PLC-122/06, que pune a homofobia no Brasil.

Cunha salientou que Temer ajudou na aprovação da Lei Geral das Religiões, cujo relator foi o próprio Cunha, que deu caráter de urgência para aprovação da lei. Aprovada em 27 de agosto do ano passado, a Lei Geral das Religiões foi um acordo entre católicos e evangélicos ratificado entre o governo brasileiro e o Vaticano. O acordo entre o governo e o Vaticano criaria o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. A Lei Geral das Religiões foi exatamente um plágio do estatuto, modificando apenas do termo “Igreja Católica” por “Instituições Religiosas”.

Arrumadinho nada laico – A bancada evangélica alegou que o estatuto priorizaria a religião da Santa Sé. No arrumadinho nada laico com o Congresso Nacional, a lei assegura a isenção de impostos, a proteção do patrimônio (leia-se dinheiro recolhido dos fieis, imóveis, entre outros) e aos locais de culto, o ensino religioso nas escolas, bem como pregações aos enfermos em hospitais e assistência social, além de uso de símbolos, imagens e objetos religiosos. O único partido a votar contra o projeto foi o PSOL.

Servo de Deus – O coordenador evangélico do PT Manuel Ferreira foi quem apresentou o candidato aos fiéis, dizendo que Temer era um servo de Deus. “Com muita alegria apresento a vocês um homem que conheço há mais de 30 anos. É um homem público, um deputado federal que tem grande influência neste país. Ele valoriza a vida, a família e a fé”, disse Ferreira. “Quero louvar a Deus pela oportunidade de conhecê-lo”, disse Temer depois do seu discurso agradecendo a acolhida de Manuel Ferreira.

Casamento gay – No debate entre os candidatos a vice-presidentes realizado no último dia 18, Temer se disse favorável à união civil, e que casamento entre pessoas do mesmo sexo, é uma “terminologia é equivocada”. “Trata-se de uma relação de natureza civil. Então, diante da nova realidade social do mundo, precisamos ter uma legislação que faça o reconhecimento dessa relação civil. Se as pessoas vão casar, se vão fazer solenidade, não importa”, disse Temer.

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NOTA MundoMais – Não é de hoje que o PMDB comanda e manda no Brasil. É o maior partido brasileiro e não quer largar o osso por nada. É o partido que dança conforme a música. Aliado do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, o partido não fez nada pelas causas políticas dos homossexuais. Aliado do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o partido só reafirmou sua postura diante dos LGBT no que fez no governo de Fernando Henrique.

Agora concorrendo à vice-presidência da República, e com os indicadores das pesquisas eleitorais – que apontam Dilma Rousseff como presidenta do Brasil – resta saber a quem Michel Temer vai querer agradar. A priori, ele só agradou aos católicos e aos evangélicos com o apoio à Lei Geral das Uniões. Resta saber se ele – como vice-presidente e líder do maior partido do Brasil com representantes no Congresso – vai se “sentir constrangido” em falar (e aprovar) algo das causas dos direitos civis dos LGBT. Enquanto isso, Temer acende uma vela para Deus e para o Diabo sem distinguir quem é quem.

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